quinta-feira, 20 de maio de 2010

Depois do eurocentrismo, o cariocentrismo...


Confesso que não sou um resoluto assistente de telenovelas muito embora nossa cultura esteja impregnada de tal modo que nos torna praticamente sabedores de algum trecho novelístico do momento. Pelo menos, mesmo que não assista, nomes de novelas e de alguns personagens sorrateiramente penetram em meu cotidiano, em certos momentos em minhas conversas do dia-a-dia me transformando num assistente ainda que superficial. Procuro não me aprofundar propositadamente pois sei dos riscos que essas sereias, filhas de Terpsícore, chamadas novelas exercem sobre o simples telespectador, tal qual Odisseu em sua aventura ao passsar pela ilha delas. Do pouco que vejo, percebo algo que me deixa intrigado nessa emissora tão onipresente no nosso país que é a Globo: por que cargas d'água as tramas, diria que em sua esmagadora maioria, só acontecem no Rio de Janeiro e em alguns pouquíssimos momentos em São Paulo? Um aficcionado por tevê, ou melhor, por telenovelas, certamente irá me corrigir e poderá bradar "Ei! Mas tivemos uma novela ano passado ambientalizada em outro país!". É verdade, mas ainda assim havia um "pezinho" no Rio de Janeiro. Ou seja, sempre existe alguma coisa acontecendo no Rio de Janeiro. Seria então uma política da empresa? Um desejo secreto de todos os dirigentes? Ou porque a onipresente Globo possui sua base lá no Rio de Janeiro e por isso lhe seria mais "cômodo" transmitir a cultura que ela vivencia? Não que eu tenha nada contra os cariocas ou os paulistas, pelo contrário, admiro-os enquanto culturas marcantes e que nos completa enquanto nação brasileira, o que procuro chamar a atenção é que a onipresente Globo não prefere reconhecer essa imensidão que se chama nação brasileira e que por sua vez deveria retratar mais em sua programação porém engole arbitrariamente as demais culturas e povos da nossa nação acreditando que a única que pode representar nosso país é a cultura carioca. - o "cariocentrismo". Por que me interessaria, por exemplo, preocupar-me com o desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro se em minha cultura a nossa festa maior é o São João, por exemplo? Por que me preocupar com o campeonato carioca ou o paulista se meu estado também possui um campeonato embora não seja valorizado - isso já é um outro problema que aqui não caberia espaço para comentar. Seria mais proveitoso preocupar-me com meus problemas e não com os dos outros já que vivemos num mundo que está buscando valorizar os micro-universos em comparação aos macros, talvez um efeito dessa coisa contemporânea chamada mundialização - ou globalização para o hemisfério norte. A televisão é uma concessão pública que deveria refletir os desejos do povo ou dos muitos povos que convivem no nosso país, assim dizem os especialistas que tenho lido e escutado, só que mais parece um desejo de um único grupo empresarial que impõe seus desejos, seus caprichos goela abaixo para um povo passivo diante desse deus onipresente. -  seria isso então o tão falado "padrão Globo de qualidade"? Chega a ser um abuso basear sua programação em um único ou dois estados que acreditam ser importantes deixando de lado tantas outras culturas, tantos outros povos, como se todo o restante tivesse a obrigação de seguir ou refletir os mesmos padrões e costumes impostos por uma minoria autoritária que manda e desmanda na programação da tevê brasileira, reconhecendo, obviamente, o poder que a televisão exerce sobre o ser humano. Talvez não seja mais o momento de nos questionarmos se estamos sendo influenciados pelas culturas advindas de fora do país, mas sim por uma única cultura imposta através de um meio de comunicação tentando nos transformar em iguais ainda que simbióticos.

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