domingo, 7 de fevereiro de 2010

A verdade não existe!


Quantas são as histórias e lendas que ouvimos sobre a origem do mundo, das coisas e dos homens? Desde explicações folclóricas, mitológicas ou até científicas, o ser humano persegue essa resposta desde tempos imemoriáveis no intento de "simplesmente" descobrir, tal qual uma criança curiosa, de onde veio, qual a sua razão de existir, qual o sentido de se estar aqui. Tais questionamentos suscitam uma busca de si mesmo através de uma inquietude interior e pujante que a todo instante atormenta o ser humano, como já nos dissera o pai da Filosofia ocidental, o senhor Sócrates. Parece-nos um tipo de fantasma que a todo instante nos ronda para lembrar que, por mais poderosos que pareçamos ser, ainda não sabemos algo deveras "simples": de onde viemos? Uma lancinante pergunta que a Filosofia tenta nos relembrar a todo momento muito embora nossa sociedade tecnocrática intente em colocá-la na marginalidade. Talvez o mais conveniente a fazer é entender cada explicação como mais uma explicação respeitando cada especificidade e esfera à qual ela esteja sujeita, todavia, temos que criar um esforço para não nos tornarmos arrogantes detentores da verdade última crente de que aquela explicação que defendemos é a única. Muitas vezes nos deparamos com certos indivíduos que incorrem nesse erro lamentável de se acharem os "donos da verdade" quando nos falam e nos contradizem a respeito, por exemplo, da origem humana sobre a terra. Algumas vezes encontramo-nos com alguma pessoa que possa agredir-nos verbalmente porque não concordamos com ela sobre, por exemplo, o criacionismo, que Deus criara o homem e a mulher a semelhança de si mesmo. Compartilho de uma idéia completamente contrária à dela, no entanto não destrataria alguém pelo simples fato de este alguém discordar de minha opinião. Em resposta poderia, no máximo, indicá-la leituras de outros povos, de outras culturas que também explicam sobre a origem do mundo e dos seres humanos ao seu modo. Poderia explicá-la das semelhanças existentes na criação do mundo dos gregos em relação à judaico-cristã, por exemplo, na qual os gregos dão um sentido ao cosmo de ordenação, uma função que se compromete em estabelecer a ordem, já nas Sagradas Escrituras falam de Deus (talvez o cosmo grego) organizando o mundo quando não havia nada, quando havia o caos, no qual os gregos criam como possibilidade de criação. E isso sem comentar escrituras sagradas de povos antigos que também são bastante semelhantes aos gregos, aos judeus e aos cristãos. Então, se cada povo possui sua explicação específica sobre a criação do universo ou até de si mesmo, como podemos apontar algo ou alguma verdade como sendo absoluta, única e, perdoando a redundância, verdadeira. Tal constatação nos remete ao filósofo francês, Michel Foucault, quando este nos indica que, por mais que tentemos demonstrar a importância ou a veracidade de um determinado conhecimento a nós mesmos, sobretudo aos outros, somos nós mesmos os únicos responsáveis para tornar aquele conhecimento efetivamente válido, importante ou verdadeiro; que se nós não déssemos a esse conhecimento a "sua" importância ele não a possuiria – e isso também nos remete a um sentido que o sujeito do conhecimento é responsável sobre seu objeto de estudo. Tudo que observamos, criamos ou entendemos, ainda segundo o filósofo francês, depende única e exclusivamente de nossa afetação para com diante daquilo que estamos observando. É como o arrebatamento de uma paixão cujo objeto de desejo, a pessoa amada, somente é importante graças ao ser que está apaixonado.
Concluindo: cada cultura, cada povo, cada época, nesse sentido, possui uma explicação específica acerca da criação – ou de outros assuntos pertinentes tanto ao indivíduo quanto à sociedade –, portanto não nos cabe, enquanto meros espectadores desse grande mistério que muitos chamam de vida, estabelecer um conhecimento tirânico ou absolutista. Devemos desconfiar de pessoas que se dizem extremamente convictas, posto que tal rigor do convencimento possa estar próximo de uma cegueira intelectual patológica.

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