quinta-feira, 13 de agosto de 2009

A verdadeira religião e uma religião que apequena o ser humano


A religião, embora seja um tema há muito discutido e re-discutido e pensado e re-pensado, ainda assim consegue ouriçar as pessoas no nosso mundo, sejam elas de qualquer raça, credo ou classe social. Até os menos inteligentes, os que não buscaram se aprofundar de uma maneira um tanto mais rebuscada sobre este tema, acham-se grandes sabedores, eloqüentes conhecedores deste tema tão vasto senão complexo. Absolutamente todo mundo possui uma opinião formada sobre a religião e muitos ainda não admitem que ninguém discorde posto que "a minha opinião é fundamentada naquilo que o padre ou o pastor falou". Deveriam ler mais. Estes grandes sabedores da religião, embora tenham toda crença possível e impossível que a sua escolha ou impressão – que seria o termo mais conveniente – sobre religião é perfeita e praticamente inabalável, acreditam-se no direito legítimo, ou até mesmo "divino", de tratarem sobre esse assunto como se fossem um santo Agostinho, um Lutero ou até mesmo um Papa qualquer. Esses incautos que lêem e apenas compreende de maneira medíocre um trecho qualquer da Bíblia já querem que as pessoas imediatamente percebam sua "grande descoberta" acreditando piamente senão cegamente que os outros necessitam desesperadamente de sua revelação, de sua salvação! Idiotas, idiotas, idiotas! Eles confundem religião com imposição, para eles são sinônimos, como também seria sinônimo o desrespeito para com as concepções dos outros, dogmatismo abusivo e exagerado. Por que essas pessoas têm que levar ao pé da letra o que está escrito em qualquer bíblia traduzida por qualquer um? "Não! A tradução da minha bíblia é muito melhor e mais aprofundada que a sua!", ou ainda: "A minha vem direto da Revelação de Deus feita para o Homem, a sua não!" e por aí vai as sandices que cada um acha estar correto quando na realidade não percebem nenhum deles que a fé estaria atrapalhando muito mais uma possível compreensão exata deste livro sagrado – isto é, se existe esse tipo de compreensão sobre esta obra, quando na realidade seria muito mais interessante se todos complementassem suas compreensões pois é muito mais prático falar em diferentes interpretações do que "eu conheço a verdade absoluta" que muitos apregoam por aí. Se bem que isto é típico de um tipo de conhecimento, no caso o religioso, que só admite gentes escolhidas, pessoas indicadas pelo divino para ter acesso a essa Verdade, então, nada mais saudável que a maioria desses grandes sabedores pretenderem ser este escolhido, não?

Um pequeno grande filósofo, desconhecido praticamente para os iniciantes ou curiosos e que passa quase despercebido pela história da filosofia, não fosse o reconhecimento dado a ele por um filósofo ilustre, o senhor Karl Marx, reconhece na figura de Ludwig Andréas Feuerbach um pensamento no mínimo inquietante. Feuerbach fora mais um dentre muitos outros que comentou sobre este tema demonstrando o quão de complexidade ele exige, lembrando ainda que este ilustre desconhecido pensador fora um teólogo que mais tarde arrependera-se "formalmente" desta sua escolha percebendo justamente a complexidade do tema e, portanto não mais ofertando o devido crédito que os doutos cristãos pretendiam. Este pensador, cuja vida nos serve de exemplo de o quanto um ser humano pode sofrer por causa de meia dúzia de idéias "incendiárias", e isso no início do século XIX, numa Alemanha ávida por ingressar de uma vez por todas no progresso industrial, conseguiu convencer Marx e Engels do caráter de encantamento – de "alienação" mesmo – existente na esfera da religião. A religião funcionou como ponto de partida para a compreensão de que este caráter de alienação estaria espraiando-se para outros ambientes, no caso, nas relações sociais entre pessoas de classes distintas.

Como disse anteriormente, esse tema atrai muitas pessoas. Sinto isso na sala de aula, nas conversas com amigos, na televisão. O tema consegue atrair muito mais do que imaginamos, talvez atraia tanto que seja por isso que vemos a todo o momento espalhados pela tevê indivíduos que se tornam símbolos consagrados de um produto justamente derivado da religião: a fé. Esses muitos indivíduos que lêem e apenas compreendem de maneira quase medíocre um trechinho mixuruca das ditas sagradas escrituras, imediatamente sentem-se arrebatados por uma inspiração divina e assim pretendem que as pessoas logo os tomem como enviados diretos da divindade maior. Acreditam que foram tocados pelo sagrado e por isso foram salvos, e agora possuem uma missão aqui na terra mundana de salvar a nós, os que ainda buscamos essa dita verdade suprema. Mil vezes idiotas!

Será que religião, para eles, é tão somente sinônimo de imposição, de dogmatismo puro, abusivo e exagerado? De desrespeito para com as concepções dos outros se essas concepções vão de encontro às suas? Por que esses estúpidos palermas acreditam que a Bíblia, a Torá ou o Corão lhes serve como o mais eficiente cabresto? Por que eles encontram em sua suposta certeza a "revelação" mais que sagrada sobre o maior mistério da vida? Chega a ser um tanto assustador quando nos deparamos com seres dessa estirpe, pois serão eles em um futuro muito próximo belos ditadores, déspotas, fascistas ou qualquer outra desgraça humana justamente voltada para algo anti-humano. A dúvida, para eles, age tal como uma cruz para um vampiro; fogem como crianças assustadas de um monstro que está no armário. Parece que, ao perceber remotamente que uma dúvida está prestes a lhes incorrer a mente, o espírito, uma grave doença lhes dominará o corpo. Fecham-se em seus casulos, em suas crisálidas, acreditando piamente que o mundo é aquilo que suas enrugadas mãos alcançam. E quando vêem alguém que não almeja enxergar aquilo com o qual eles já se habituaram, taxam-no de desviado, de incrédulo, ou até de adorador de alguma entidade malévola - como que se tais entidades tivessem alguma relação com a mediocridade de espírito deles -, julgam-no precipitadamente sem sequer ouvirem o que o outro tem a dizer. Eis, então, que surge o grande dilema: em que categoria colocar essa gente desrespeitosa e nada religiosa, se tomarmos o sentido originário deste termo tão solapado? Será, por exemplo, que o Cristo manifestava uma proposta de tornar as pessoas fechadas para o mundo e para os outros, fechadas no sentido de afirmarem que uns poucos têm a verdade e os que não têm deveriam ser perseguidos - aliás, vale lembrar que ele próprio fora um desses perseguidos -, execrados da sociedade? Será que o Cristo pretendia salvar o mundo dos homens para que alguns poucos pudessem encontrar a verdade e assim esses poucos deveriam subjugar a grande maioria supostamente perdida? Ser crédulo é sinônimo de estupidez, de idiotice aguda? Será que esses indivíduos possuem alguma dificuldade em perceber que religião envolve conceitos fundamentais como fraternidade, irmandade ou, no mínimo, respeito para com o outro? Até o próprio Nietzsche, tão perseguido por esses grandes sabedores da religião e por esses mesmos perseguidores que o taxaram de herege ou demoníaco, possuía algo que eles jamais manifestariam e que é justamente o princípio de humanidade, de respeito para com o ser humano e inclusive com a natureza, coisa que a filosofia tradicional daquele momento não reconhecia, representada na figura maior de Hegel. Nietzsche chama a atenção para que o próprio ser humano identifique dentro de si esse princípio verdadeiramente supremo ou até divino, pois pertence à sua natureza, reconhecer que o outro tem um valor tal em relação a qualquer um e coisa. É reconhecer que o diferente existe e deve ser visto como diferente, não com uma visão de reducionismo, de preconceito, "farisaica"; é tão somente reconhecer que o diferente é diferente e que isso não suscita direito algum de menosprezo. Já Hegel, por mais notável e brilhante que tenha sido sua filosofia, por exemplo, enxergava o negro como um ser inferior - como antítese, segundo sua nomenclatura filosófica - ávido por relacionar-se com o branco, pois somente este o "salvaria" do estado de barbárie em que ele próprio e seu mundo se encontravam; ou ainda, afirmar que o cristianismo é a religião "maior por excelência", pois somente ela é quem de fato consegue a incrível façanha de lidar com o conceito. Concordo veementemente que Hegel contribuiu e ainda contribui com sua filosofia para uma compreensão mais acurada da nossa realidade servindo-nos com seu arcabouço, com sua estrutura que consegue adaptar-se dialeticamente a qualquer período em que a nossa história esteja, não obstante, sua contribuição, para aquela época, já era muito arriscada, senão efetivamente imperialista, ostentadora da ideologia de políticas dominadoras que sequer apresentavam uma noção de respeitabilidade para com o outro, e dentre essas políticas, obviamente que se enquadra aqui o catolicismo ou o cristianismo de modo geral, de algum modo ganhando alguma legitimidade na filosofia hegeliana. Parafraseando Nietzsche, o ser humano não é melhor nem pior que uma simples formiga, ele, simplesmente, e assim como a formiga, realiza aquilo que sua natureza lhe permite e isso jamais lhe dará o direito de julgar-se superior a qualquer uma das criaturas da natureza maltratando-as de algum modo, e isto se dá também com o próprio ser humano - obviamente que isto se aplica a esses supostos religiosos que se acham no direito sagrado de serem superiores aos demais espraiando sua arrogância seguida de intolerância e desrespeito ignorando assim justamente esse aspecto da natureza assinalado por Nietzsche. Seria bem interessante que esses ditos homens da religião, em algum momento de suas maravilhosas vidas, dedicassem um pouco de seu precioso tempo à leitura de uma obra nietzschiana que consegue demonstrar o quão eles ainda têm muito que aprender sobre preceitos efetivamente religiosos. Seria tão bom se, com a mesma vontade que lêem a Bíblia, lessem algumas passagens do Anticristo, do Ecce Homo ou de outro filósofo "menor" como Feuerbach em a Essência da Religião e não ficassem presos às suas "robisonadas" religiosas, utilizando um termo da crítica marxista. Reconheço sim o quão pretensioso de minha parte imaginar que tais figuras pudessem de algum modo se debruçar sobre algo diferente de seu mundo e assim fortalecer - ou não - suas crenças naquilo que acreditam com tanto fervor. Sei que uma leitura desses indivíduos sobre a contribuição do velho Nietzsche ou do sofrido Feuerbach suscitaria julgamentos no mínimo desrespeitosos dirigidos às suas imagens desmerecendo assim pensamentos contundentes e efetivamente "religiosos", para não dizer humanitários.

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