quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

O ser humano precisa ser salvo de quê ou de quem?

Hoje senti uma inquietação que jamais havia sentido antes! Uma pergunta veio até meu pensamento que me deixou intrigado, confuso e bem angustiado - mais de uma para a coleção! Vivemos em uma época de crises de valores, de perspectivas, sobretudo política ou ideológica, na qual o ser humano não consegue mais encontrar uma referência sólida, inabalável, que lhe oferte uma segurança necessária para que ele mesmo consiga iniciar a tão laboriosa busca de si mesmo. Nem a religião, a mais antiga das bases referenciais humanas consegue ser tão inabalável. Por isso minha inquietação: será que o ser humano tem "salvação"?

As dúvidas e questionamentos quanto a essa possibilidade de salvação do ser humano tomam meu espírito que não consegue, contudo, sequer criar uma justificativa cabível que me convença da necessidade de se salvar o ser humano de sua atual condição! Certo que este texto pode configurar-se pessimista - que o seja! - mas que não podemos negar essa condição de a humanidade parecer estar sem rumo, isso sim me toma como um fato inegável.

A todo instante somos bombardeados com notícias e mais notícias de corrupção, de desrespeito aos direitos humanos, de violência, de terrorismo, de fundamentalismo, de crises financeiras... Daí me aparece um indivíduo e diz que temos uma solução quanto a esse quadro: "desligue a televisão", ele diz. Piora mais ainda, pois a sensação de alienação ou de não estar nem aí com o mundo em ruínas a nossa volta tende a aumentar um sentimento de estar fazendo a coisa errada também...

Como simplesmente fechar os olhos para nossa realidade, para essa realidade tão obscura e ao mesmo tempo tão cruel? Admito que parece clichê, mas ir para uma igreja e simplesmente orar para que uma entidade metafísica possa solucionar nossos problemas não me parece o mais apropriado. Ir a um cinema e ficar colecionando peças de personagens de filmes acreditando estar vivendo aquela  realidade ficcional com o objetivo simples de consumo também não me parece apropriado. Se fechar no mundinho de partidarismos políticos com visões tacanhas de determinadas ideologias, piorou. Por isso a pergunta: que fazer?

Quando se é jovem parece que o mundo todo está a seus pés. Basta-lhe um punhado de ideiazinhas para lhe dar um chão que o indivíduo se acha pleno. Mas, basta-lhes alguns anos e um certo grau de cultura - de maturidade - para se perceber que esse chão de outrora é movediço. A humanidade, os seres humanos, estou cada vez mais convencido disso, é um caso perdido! O único animal da Terra que tem a capacidade de transformar a natureza e, no entanto, é o que mais a destrói; é o único animal na face da terra que tem a sagacidade de elaborar palavras e daí criar discursos, mas o faz para perseguir, para maltratar ou até destruir argumentativamente seu semelhante acreditando ser o "dono da verdade"; o único animal da face da terra que se acha superior aos demais - inclusive a si mesmo - e por isso se vê no direito "natural" de dominar ou violentar o diferente.

Como, então, diante de uma realidade dessas dizer ou afirmar que a humanidade tem "salvação"? Alguém pode dizer: "mas o ser humano sempre foi assim desde suas origens e o mudo continua aí..." Eis que eu digo: e isso é reposta? Isso é alguma justificativa? Então eu sou de algum modo obrigado a aceitar essa situação e simplesmente "deixar a vida me levar"? Lidar com o ser humano é uma arte! Não que eu esteja desvalorizando a arte, mas faço referência às incontáveis dificuldades que é lidar com pessoas - portanto seres humanos racionais dotados de um polegar - que afirmam que sempre existiu e sempre existirá aquele que vive bem e o que vive mal, ou seja, o explorador e o explorado; que, embora tenham passado por um curso "superior", admitem que a violência entre crianças deva ser incentivada; que a sociedade deva ser comandada por pessoas que desrespeitam os direitos humanos elementares.

Admito que parece um discurso extremamente pessimista, mas o ser humano, em sua condição geral, aliás, como já nos dissera o velho Schopenhauer, está fadado ao sofrimento. Por que então lutar contra isso? Por que então não aceitar tal condição, abraçá-la, senti-la em sua profundidade. Talvez, quem sabe, o ser humano pudesse até entender a efetiva "felicidade".

"Esse é o pior dos mundos possíveis. Com todas as suas variantes e diferenças, com toda a sua multiplicidade, durante o seu desenvolvimento, a realidade íntima do mundo e do homem é sempre a mesma vontade onipotente; a própria história é sempre a repetição do mesmo acontecimento sob aparências diversas: a vontade de viver determinando o sofrimento como condição humana: VIVER É SOFRER..." (A. Schopenhauer).

SOBRE A RELAÇÃO ENTRE IDEOLOGIA E LINGUAGEM

https://novaescola.org.br/conteudo/1621/mikhail-bakhtin-o-filosofo-do-dialogo Ao me deparar com uma situação relativamente corriqueira em me...