sexta-feira, 14 de setembro de 2012

O problema da democracia

A democracia, é notório para muitos de seus defensores, é uma das melhores formas de governo que o ser humano pode gozar em sua história. Repleta de vantagens, de benesses, é de fato uma das formas de governo mais aprimorada para lidar com o ser humano em sociedade e seus anseios de liberdade. Mas hoje em dia mais se assemelha a um discurso envelhecido manejado pela velha burguesia que tenta impor mais uma vez goela abaixo suas sutis formas de dominação, alienação e controle - aliás, e quando de fato ela deixou de sê-lo? Apesar de ela ser a melhor forma de governo para lidar com o próprio ser humano em coletividade, ainda assim traz consigo algumas mazelas cancerígenas e que muito provavelmente irão demorar para extinguir-se, pelo menos por aqui, nas paragens tupiniquins.

Imagem retirada do blogue  http://historikaos.blogspot.com.br

A democracia manifesta como uma de suas mazelas cancerígenas, o que parece até um paradoxo, a diversidade de opiniões. Calma, não estou aqui afirmando que sou contra a diversidade de opiniões, mas por permitir uma diversidade de argumentos, de propostas, de programas, ou seja, de ideias que podem ir de encontro à própria democracia. A democracia é exaltada por muitos principalmente porque permite essa liberdade de expressão que muitas vezes é confundida com liberdade de criticar ela mesma e assim paulatinamente ruir seus princípios conquistados a sangue e suor ao longo da história humana.

O velho Aristóteles nos recordara de que o ser humano é um animal condenado a viver em sociedade, a viver na dependência da política, afinal, essencialmente, política nada mais é do que o saber lidar com a coletividade, numa palavra, lidar com os seres humanos. É através da política que o ser humano consegue criar os caminhos pelos quais pode melhorar sua vida em sociedade. Não obstante, o regime de governo mais adequado ao ser humano, segundo o próprio Aristóteles, não é a democracia.

O grande Platão concordaria até certo ponto com a visão aristotélica ao afirmar também que a democracia, apesar de ideologicamente ser mais envolvida com princípios humanitários, estaria eivada de fragilidades que os mais poderosos sem dúvida saberiam notadamente aproveitar. Por isso ele crer muito mais em uma monarquia esclarecida ou um rei-filósofo que no "governo do povo", povo este que não possui as capacidades adequadas para comandar a si mesmo já que não passou por nenhuma espécie de preparação.

No entanto, apesar dos pesares, sou obrigado a concordar até certo ponto tanto com aqueles que defendem quanto com aqueles que criticam a democracia. Concordo ao afirmar que a democracia de fato é a forma de governo que mais permite ao ser humano efetivar sua subjetividade, sua liberdade; discordo quando percebo certos comportamentos, certas atitudes de indivíduos que se dizem "políticos" dentro da democracia com posturas notadamente antidemocráticas ou ditatoriais, posturas mesquinhas de interesses escusos ou simplesmente a busca clara e evidente pelo poder. Sou forçado ainda a questionar sobre a eficácia da democracia ao analisar esses tipos de comportamentos e ações.

Uma análise de cunho filosófico aponta que política e poder andam de mãos juntas. Não é à-toa a enormidade de candidatos a qualquer cargo político. Todos, embora mostrem seus programas mais maravilhosos possíveis, almejam única e exclusivamente o poder de criar leis, de distribuir dinheiro, de criar cargos ou simplesmente de conquistar um status na sociedade, afinal, qualidade da nossa democracia, até um leiteiro pode se tornar um "notável" político - que fique bem claro que não tenho nada contra leiteiros.

Mas essa nossa democracia é tão eivada de defeitos que constantemente vemos exemplos dos variados "desvios" de conduta dos nossos estimados políticos. A democracia parece ser tão frágil, um mero conceito ideológico, no sentido marxista de fato, que serve apenas para ludibriar o mais "inocente" eleitor, esse ser tão importante durante os meses que antecedem alguma eleição. A democracia não nos ensina a identificar os maus políticos, aliás, o que é ser um mau político? Como definir um bom ou um mau político? Como lidar, por exemplo, com indivíduos que só lembram de seus eleitores justamente no período próximo às eleições? Como lidar com indivíduos que se dizem "políticos" quando assumem perseguir seus adversários confundindo-os, em alguns casos, como inimigos íntimos? Pior ainda, como lidar com indivíduos que se autoproclamam "salvador", que estão numa "luta do bem contra o mal"? Como lidar com "políticos" que se aproveitam da fé ou de alguma religião qualquer para se elegerem como o mais capacitado? Numa palavra, como lidar com candidatos políticos que se auto-intitulam arautos de Deus?

Confesso que, apesar do Tribunal Eleitoral gastar bastante dinheiro em propagandas educativas para que se saiba distinguir o bom do mau político, tal exercício é no mínimo dos mais difíceis senão em vão, pois cada um, na realidade, parece dispor de seus argumentos para definir quem é um bom e um mau político. "Bom é aquele que me tirou daquele hospital ruim e me botou num bom!"; "ruim é aquele que não faz festa pra cidade"; "bom é aquele que pagou minhas contas de energia e água"; "bom é aquele que me levou pra cidade de ambulância quando tava doente"; "ruim é aquele que me negou um colchão pra dormir"; enfim, poderia citar aqui uma série de argumentos ditos pelo povo analisando quem é o bom e quem é o mau político... Mas e o povo? Ah, o povo também possui sua parcela de culpa, aliás, diria até a maior parcela. Porém, é melhor me calar para depois não me taxarem de antidemocrático ou contrário ao povo já que "a voz do povo, é a voz de Deus"...

SOBRE A RELAÇÃO ENTRE IDEOLOGIA E LINGUAGEM

https://novaescola.org.br/conteudo/1621/mikhail-bakhtin-o-filosofo-do-dialogo Ao me deparar com uma situação relativamente corriqueira em me...