sábado, 17 de abril de 2010

Pensar é um crime!?


Hoje ao comprar o pão, como faço rotireinamente à tarde, pude presenciar um comentário que ao mesmo tempo em que me deixou preocupado, demonstrou ser uma realidade inquestionável. Duas atendentes que trabalhavam no caixa do supermercado conversavam sobre os filmes que mais gostavam. Até aí achei algo extremamente tranqüilo senão raro por essas paragens "enforcadenses". Depois de debaterem a respeito de um filme nacional do momento estar alcançando um questionável sucesso graças a um apelo um tanto religioso, eis que uma delas lança e me fere tal qual uma flecha a seguinte afirmação: "o filme é ruim quando chega no final e a gente é que tem que ser criativo e entender". E a outra, concordando, emendou: "Eu também não gosto desses filmes que fazem a gente pensar...". Respirei fundo... Olhei para os lados segurando para não soltar um palavrão e tentar mostrá-las justamente o contrário. Contive minha índole de filosofante. Saí da loja com um leve mal-estar depois do que ouvira e comecei a refletir – essa estranha mania que me toma desde minha saudosa época de estudante profissional. Confesso que a vontade que me deu foi, além de xingar, pular no pescoço das duas tentando esganá-las dizendo que elas não mereciam estar vivas, aliás, não mereciam nem serem denominadas de humanas por afirmarem tal coisa. Mas, graças à fortuna, contive-me. Depois que passei a exercitar essa coisa que me faz escrever pude desenvolver dentro de mim um espírito verdadeiramente cristão – ainda que momentaneamente – e perdoá-las. Pois é. Depois de toda aquela minha insatisfação, para não dizer raiva, cheguei à conclusão de que as pobres coitadas não tinham culpa de suas verdades tendo em vista que a cultura à qual respiramos impõe justamente esse tipo de pensamento, esse tipo de ideia, e o que é pior, transforma-a numa verdade absoluta. Talvez se eu interferisse na conversa delas poderia até sofrer algum tipo de agressão ou então ser taxado como estúpido. Pensar hoje em dia soa até como um palavrão, um crime horrendo que alguém praticou, e se eu me dispusesse a proteger o pensar, afirmando que o filme que faz a gente pensar, que permite ao simples assistente um exercício de reflexão, é muito positivo, no sentido de ofertar a nós um momento de engrandecimento espiritual, poderia ser taxado no mínimo como "olha o chato que vem comprar pão de novo". Agi bem (eu acho) ao ficar calado e agora expor um pouco minha indignação diante daquela situação. A ideia que me vem à cabeça é de desespero ao constatar que minha realidade está infestada de pessoas com esse mesmo pensamento. De pessoas que, talvez por força das circunstâncias, dão-se ao luxo de acomodarem-se e assumir abertamente que a inteligência ou a razão não as fará felizes. Quem sabe até o errado seja eu e não elas ao seguirem uma tendência tão lugar-comum nos dias de hoje. Eu é que estou errado ao tentar mostrar um caminho que creio ser mais feliz para as pessoas, pois a experiência desse caminho é exclusivamente minha, o que não me dá o direito de impô-lo a outras pessoas. Se elas estão felizes com as suas escolhas, que seja!

sábado, 3 de abril de 2010

Um Pensamento Genuinamente "Americano"

Gostaria de abrir um precedente e fugir um pouco do "convencional" nesse espaço para divulgar um discurso que, à primeira vista, não nos parece provido de certo traquejo filosófico. Não obstante, o senhor Guaicaípuro Cuatemoc nos fala com uma propriedade tão colossal que fica quase impossível não relacioná-lo ao panteão dos pensadores da humanidade. E o que é melhor: um pensamento que reflete sobremaneira os milhões e milhões de latino-americanos calados pela sua auto-piedade para não dizer incapacidade - talvez imposta - em desvencilhar-se dos grilhões ora americanos, ora europeus. Retirei este texto do site www.novae.inf.br. Deleitem-se!



"Aqui estou eu, descendente dos que povoaram a América há 40 mil anos, para encontrar os que a "descobriram" há 500... O irmão europeu da alfândega pediu-me um papel escrito, um visto, para poder descobrir os que me descobriram. O irmão financeiro europeu pede ao meu país o pagamento, com juros, de uma dívida contraída por Judas, a quem nunca autorizei que me vendesse. Outro irmão europeu explica-me que toda a dívida se paga com juros, mesmo que para isso sejam vendidos seres humanos e países inteiros, sem lhes pedir consentimento.
Eu também posso reclamar pagamento e juros. Consta no "Arquivo da Companhia das Índias Ocidentais" que, somente entre os anos de 1503 e 1660, chegaram a São Lucas de Barrameda 185 mil quilos de ouro e 16 milhões de quilos de prata provenientes da América.
Teria aquilo sido um saque? Não acredito, porque seria pensar que os irmãos cristãos faltaram ao sétimo mandamento!
Teria sido espoliação? Guarda-me, Tanatzin, de me convencer que os europeus, como Caim, matam e negam o sangue do irmão.
Teria sido genocídio? Isso seria dar crédito aos caluniadores, como Bartolomeu de Las Casas ou Arturo Uslar Pietri, que afirmam que a arrancada do capitalismo e a actual civilização europeia se devem à inundação dos metais preciosos tirados das Américas.
Não, esses 185 mil quilos de ouro e 16 milhões de quilos de prata foram o primeiro de tantos empréstimos amigáveis da América destinados ao desenvolvimento da Europa. O contrário disso seria presumir a existência de crimes de guerra, o que daria direito a exigir não apenas a devolução, mas uma indenização por perdas e danos.
Prefiro pensar na hipótese menos ofensiva.
Tão fabulosa exportação de capitais não foi mais do que o início de um plano "Marshall Montezuma", para garantir a reconstrução da Europa arruinada por suas deploráveis guerras contra os muçulmanos, criadores da álgebra e de outras conquistas da civilização.
Para celebrar o quinto centenário desse empréstimo, podemos perguntar: Os irmãos europeus fizeram uso racional responsável ou pelo menos produtivo desses fundos?
Não. No aspecto estratégico, dilapidaram-nos nas batalhas de Lepanto, em navios invencíveis, em terceiros reichs e várias outras formas de extermínio mútuo.
No aspecto financeiro, foram incapazes - depois de uma moratória de 500 anos - tanto de amortizar capital e juros, como de se tornarem independentes das rendas líquidas, das matérias-primas e da energia barata que lhes exporta e provê todo o Terceiro Mundo.
Este quadro corrobora a afirmação de Milton Friedman, segundo a qual uma economia subsidiada jamais pode funcionar, o que nos obriga a reclamar-lhes, para seu próprio bem, o pagamento do capital e dos juros que, tão generosamente, temos demorado todos estes séculos para cobrar. Ao dizer isto, esclarecemos que não nos rebaixaremos a cobrar de nossos irmãos europeus, as mesmas vis e sanguinárias taxas de 20% e até 30% de juros ao ano que os irmãos europeus cobram dos povos do Terceiro Mundo.
Limitar-nos-emos a exigir a devolução dos metais preciosos, acrescida de um módico juro de 10%, acumulado apenas durante os últimos 300 anos, concedendo-lhes 200 anos de bónus. Feitas as contas a partir desta base e aplicando a fórmula europeia de juros compostos, concluimos, e disso informamos os nossos descobridores, que nos devem não os 185 mil quilos de ouro e 16 milhões de quilos de prata, mas aqueles valores elevados à potência de 300, número para cuja expressão total será necessário expandir o planeta Terra.
Muito peso em ouro e prata... quanto pesariam se calculados em sangue?
Admitir que a Europa, em meio milénio, não conseguiu gerar riquezas suficientes para estes módicos juros, seria admitir o seu absoluto fracasso financeiro e a demência e irracionalidade dos conceitos capitalistas.
Tais questões metafísicas, desde já, não nos inquietam a nós, índios da América. Porém, exigimos a assinatura de uma carta de intenções que enquadre os povos devedores do Velho Continente na obrigação do pagamento da dívida, sob pena de privatização ou conversão da Europa, de forma tal, que seja possível um processo de entrega de terras, como primeira prestação de dívida histórica..."

O objetivo da vida é ser feliz?

  Decerto a experiência humana nos impõe uma ideia de que tanto o prazer como um estado de felicidade associados de algum modo devem ser tom...