terça-feira, 15 de setembro de 2009

O problema da Educação em Sergipe - alguns comentários

A vida acadêmica é recheada de qualidades que muitos as julgam como fulcrais para o exercício da profissão escolhida ou até mesmo para o bem conduzir da vida enquanto um "cidadão consciente". O estudante de Direito, por exemplo, é tomado pelos conhecimentos teóricos concernentes à sua área; o de Filosofia é invadido pelos também conhecimentos teóricos pertinentes à sua área; o de História passa a conhecer os conteúdos que deverá tratar e assim por diante. Nesse período de aquisição ou de preparação, qualquer um desses estudantes se vê acometido por inúmeras teorias muito bem elaboradas, muito bem desenvolvidas e que, a priori, permitem certa aproximação de "uma" realidade, ou seja, conhecem-se os conceitos, os fundamentos e, mais tarde, ao concluir seu respectivo curso, ele é tido como preparado e conhecedor desta realidade ensinada. Mas aí, enfim, ele cai na realidade "real", perdoando a redundância. Qualquer um desses estudantes regressa ou ingressa no quotidiano tentando de maneira desesperada aplicar ou adequar o escopo adquirido anteriormente a esta "nova" realidade. Talvez com os cursos cuja finalidade sejam tão somente transmitir um conteúdo técnico não aconteça desta forma, porém, em cursos da área de humanas, principalmente, nota-se um abismo entre essas duas realidades. No curso de Filosofia, por exemplo, o acadêmico atravessa um determinado período de tempo somente adquirindo as incontáveis teorias filosóficas a fim de, ao menos, tentar interpretá-las e pô-las em conformidade com a realidade à qual este estudante está inserido. Ele pode conseguir ou não, vai depender da capacidade que ele manifesta diante da aplicabilidade das tais teorias e de seu poder intelectual ou interpretativo em desenvolvê-las. Mas como ele pode aplicar o que aprendera à sua realidade? Procurando "desesperadamente" uma interpretação pífia sequer de alguma grandiosa obra ou de um bem trabalhado sistema filosófico trazido à luz por um teórico de um lugar muito distante e, na maioria das vezes, de outro período histórico? Como tentar interpretar e trazer à nossa realidade pensadores como Marx se ainda vivenciamos uma Idade Média, se ainda encontramos nos grandes escalões da sociedade indivíduos preocupados em manter uma ordem pautada em uma religiosidade formal e absurdamente pretensiosa? Como podemos nos adaptar ao pensamento de um Nietzsche se ainda encontramos indivíduos que expurgam ou condenam um único corajoso "rebelde" que tenta mostrar que a religião judaico-cristã não passa de mais uma empresa financeira como qualquer outra cujo único produto a ser vendido é a fé? Eis, então, o cerne dos conflitos que podem vir a surgir na mente deste estudante de Filosofia, a depender de sua capacidade interpretativa ou até mesmo de sua personalidade, da sua propensão àquilo que de certa forma violenta seu espírito. Tudo aquilo que ele procurou adquirir ou que lhe disseram para adquirir aparentar-lhe-á, à primeira vista, incompatível e inexeqüível. Como este pobre estudante de Filosofia, no curso de licenciatura, por exemplo, pode chegar a uma sala de aula do ensino médio e falar que "a religião trata as pessoas como se fossem cordeiros para o abate bem como a própria sociedade" se todos seus alunos já foram desde pequenos catequizados e jamais poderiam, segundo seus educadores, lidar com tal opinião? Caberão ao estudante-professor duas saídas: esquecer tudo que aprendera em relação à crítica ou ao menos ao desenvolvimento dela em seus alunos diante da realidade em que compartilham; ou ser de fato um crítico, um provocador ferrenho de tudo e de todos e arcar com as conseqüências de sua bravura podendo ser condenado, no mínimo, como um pária, um marginal ou até mesmo um louco. Entretanto, as disciplinas que não necessitam de certa visão crítica, os cursos meramente técnicos, não sofrem este tipo de problema, pelo contrário, são até muito bem aceitos e difundidos até como mais valiosos que os outros, em especial o de humanas – vale ressaltar que não estou tentando criar uma validade ou uma importância maior a uma determinada área do conhecimento, como a de humanas, estou sim tentando mostrar uma suposta supremacia que a sociedade administrada pós-moderna em Sergipe vem dando aos conhecimentos puramente técnicos, se isto não se aplicar em todo país.


A pretensão de se pôr em prática tudo que aprendera cai por terra e o desesperado estudante vê-se acuado tentando criar adequações estranhas que consigam, ao menos, permitir algumas relações com o conhecimento adquirido em sua vida acadêmica. Isto sem comentar os casos em que muitos destes estudantes das sofridas Humanidades não conseguem sequer perceber essa desconexão porque não tiveram a oportunidade – ou talvez a coragem – de ter acesso a ela. Os Estados, principalmente nas regiões do Norte do Brasil, são guiados por grupos políticos e financeiros, por interesses meramente corporativistas – senão "coronelistas" de fato –, por grupos da aristocracia, da High Society rural que conseguem alternar-se no poder do Estado de acordo com as circunstâncias e necessidades particulares do momento.


Aparenta-nos que qualquer estudante da área de humanas ou não, enquanto cursa, é bombardeado de mais e mais informações passando assim a criar uma espécie de obrigação em reter, em armazenar, em transformar qualquer conteúdo em dado técnico. O estudante-professor se vê praticamente forçado a retransmitir mimeticamente e de uma forma mais sucinta possível o que fora adquirido. Agora ele fará parte, bem como seu aluno, de outro círculo vicioso também pautado em pura aprendizagem mimética.


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